Category Archives: sociedade

Autores sombra

Como é que um futebolista, que mal consegue dizer duas frases com sentido numa entrevista, de repente aparece a publicar uma autobiografia? Obviamente que houve alguém que se manteve na sombra e que foi o verdadeiro autor do texto que veio a ser publicado sob o nome do biografado. Estes autores sombra aparecem também por trás dos políticos que não sabem ou não têm tempo para escrever os seus discursos e prever adequadamente as consequências de cada palavra ou cada frase.

O autores sombra são como os imitadores de palco, que procuram falar e agir como se fossem as pessoas que imitam, a ponto de os espectadores deixarem de saber, a certa altura, qual é a verdadeira voz e atitude do artista. O autor sombra apaga-se a si próprio e procura escrever como se, de facto, o texto fosse escrito pela pessoa que lhe dá o nome. Uma outra área em que os autores sombra estão bem presentes é a dos campeões de vendas (bestsellers). Como é que alguém pode produzir milhares de páginas de novelas, todos os anos, de forma regular? Criando uma espécie de indústria, com várias pessoas a escrever na sombra, mantendo um estilo razoavelmente uniforme, para que seja credível a autoria única da obra. Os autores sombra podem aparecer como co-autores, na capa do livro, num agradecimento no interior ou podem não chagar a ser mencionados.

O acaso fez que os dois últimos livros que li e aquele que estou a ler chamaram a minha atenção para este assunto, já que os primeiros, dos quais já falei aqui, se apresentavam com um co-autor, em letra reduzida, e o actual, sobre o que escreverei mais tarde, tem como protagonista um ghost writer; para já, não sei se o autor do próprio livro é, também ele, fantasma.

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Natal em tempo de crise

Há muito que o Natal me parece um tempo de desperdício mas a conjuntura de aperto económico e financeiro em que vivemos torna esta questão mais premente do que antes. As reuniões de Natal da nossa família envolvem cerca de 30 pessoas e, se não se adoptassem medidas de contenção, se cada pessoa levasse um presente para cada um dos outros, isso significaria 900 presentes a trocar de mãos, presentes que, na maioria dos casos, não teriam qualquer utilidade para os destinatários e teriam significado apenas como lembrança da pessoa que ofereceu. Receber 30 presentes todos os anos significaria também a necessidade de encontrar espaço de prateleiras e gavetas para colocar tanta tralha, o que é deveras custoso.

A epopeia dos presentes começa mais de um mês antes do Natal e envolve exercícios de imaginação e andanças pelas lojas sem fim, isto para comprar bugigangas que, já o sabemos, podem não servir para nada e podem mesmo não agradar ao destinatário, que vai ter que ir às lojas tentar trocar por coisas que aprecie ou de que precise. A despesa com presentes pode ser muito significativa, mesmo quando se tenta colocar tectos para o valor de cada presente. Mas o consumo dinamiza a economia e, por aí, o despesismo do Natal poderá contribuir para o alívio da recessão económica; para que isso funcione é indispensável que se comprem produtos de manufactura nacional, de preferência utilizando matérias primas também nacionais, o que não é compatível com ofertas de telemóveis ou de jogos de computador, para dar dois exemplos.

Há alguns anos que temos adoptado um método de contenção do número de presentes, que garante que cada pessoa recebe um único presente que foi pensado especialmente para si. Com alguma antecedência são feitas fichas com o nome de todos os que vão estar presentes na noite de Natal e é feito um sorteio, de forma que cada um fica com o encargo de encontrar um presente para a pessoa que lhe sair em rifa; os presentes têm um valor máximo pré-determinado, para que não haja grandes disparidades. Em vez de 900 presentes trocam-se apenas 30, quem recebe não sabe quem foi que adquiriu mas sabe que foi pensado especialmente para si. Independente desta troca na reunião de Natal, é normal haver ofertas entre pais e filhos na casa de cada um, mas estas têm boa probabilidade de ser úteis e apreciadas.

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Universo alcunha de Deus

No episódio da sarça ardente Deus, respondendo à pergunta de Moisés sobre qual era o Seu nome, disse: Eu sou aquele que É. Esta é uma tradução geralmente aceite para o nome hebraico de Deus, hoje transliterado para Javé. Há dias escrevi aqui, a propósito do Bosão de Higgs, que tudo leva a crer que o Universo não necessitou de ser criado e que, pura e simplesmente É; o Universo parece ter sido capaz de criar tudo quanto existe e, como tal, este Universo justapõe-se e coincide com o conceito de um Deus criador de todas as coisas. Também a crença cristã de que Deus está em toda a parte e em todas as coisas se torna inteiramente compatível com um Universo criador.

A tradição criou uma imagem antropomórfica de Deus, como alguém sobre-humano mas, de alguma forma, dotado de características de inteligência, comportamento e vontade à imagem do ser humano, e é aí que deixa de haver compatibilidade entre a tradição cristã e o Universo criador. O Deus que julga, premeia e castiga, o Deus com livre arbítrio e capacidade de alterar a ordem natural das coisas, dificilmente pode ser compatibilizado com o Deus Universo. É possível a existência de uma consciência e de uma vontade universais, resultantes das consciências e vontades colectivas, como explica Neale Donald Walsch em Conversas com Deus; nestas circunstâncias, uma vontade colectiva poderia, até certo ponto, provocar acontecimentos improváveis. Eu próprio já há anos sugeri, em O Cérebro do Planeta, a possibilidade de a raça humana constituir um ser de escala planetária, dotado da sua própria inteligência, mas quando falamos do Deus Universo falamos de um ser à escala de todo o Universo e não do planeta Terra.

Estas considerações são profundamente inquietantes para mim próprio; não se julgue que estou seguro daquilo que escrevo e que sou detentor de alguma espécie de revelação. Trata-se, tão só e não é pouco, de ter sido treinado para usar a cabeça, o que fiz durante toda a vida, e de não poder agora desligar o interruptor para que ela deixe de trabalhar.

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Bosão de Higgs

Aviso já que não tenciono explicar o que é o bosão de Higgs, porque outros mais capacitados do que eu têm tentado fazê-lo, na comunicação social, sem qualquer sucesso. Até agora eu mantinha uma secreta esperança de que o bosão de Higgs não existisse mas pronto; parece que existe e há que render-me à evidência.

Uma pergunta que me parece pertinente é: Em que é que esta descoberta vai afectar as nossas vidas? Eu diria que em 0% (nada)! O que pode vir a ser afectado são as nossas crenças religiosas porque, com ou sem bosão, é cada vez mais aparente que nada no Universo teve que ser criado, o que quer dizer que o Universo e tudo quanto ele contém, pura e simplesmente É. O Universo, ao que parece, existe porque sim e ele próprio cria tudo, incluindo a vida e aquilo a que se convencionou chamar inteligência. Se estas afirmações parecem heréticas, estou convencido de que parecem aquilo que não são.

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Licenciaturas relâmpago

É legítimo obter um diploma de licenciatura fazendo apenas quatro exames e adquirindo créditos para todas as outras disciplinas com base em equivalências concedidas em consideração da experiência profissional anterior? É legítimo mas, quando a universidade é uma universidade privada e o estudante é um político, são inevitáveis as suspeitas de favorecimento. A verdade é que, por todo o mundo, é possível obter diplomas comprados, sem nunca fazer qualquer exame ou frequentar aulas, sendo certo que todos os diplomas carregam o prestígio, ou a falta dele, da universidade que os passa; e o prestígio consegue-se através de todo um historial de seriedade obtido ao longo dos anos. Na minha opinião os casos recentes vindos a público na sociedade portuguesa contribuem para o desprestígio das respectivas universidades e dos estudantes que recorreram ao estratagema.

Há pouco tempo assisti às provas de doutoramento, numa universidade pública, de alguém que não era detentor de licenciatura. A pessoa em causa tem dezenas de anos de trabalho profissional e científico na área em que veio a doutorar-se, tem muitos livros publicados e escreveu uma tese, durante alguns anos, com orientação científica; o júri do doutoramento era constituído por investigadores de grande prestígio, que foram unânimes em elogiar o trabalho realizado. Este caso serve de exemplo para a forma como uma universidade prestigiada lida com a validação do trabalho profissional para fins académicos, que é totalmente distinta dos diplomas relâmpago.

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Buscas na internet depois do acordo

Que eu sou anti-acordo e me recuso a adoptar a nova ortografia já o escrevi e reafirmo. Uma das consequências da confusão que foi criada é a multiplicação de expressões de busca nas pesquisas na internet; considerem a busca de algo como “motor eléctrico adoptado em…”. Para obter todas as respostas relevantes é necessário fazer quatro buscas, combinando as ortografias pré e pós acordo das palavras “eléctrico” e “adoptado”. Esta situação aconteceu-me recentemente e contribuiu para, mais uma vez, acentuar a minha oposição ao acordo ortográfico.

A propósito deste tema ouvi há dias, num programa de rádio, um ilustre linguista, dos que integraram a comissão responsável pela negociação do acordo, afirmar que nenhum dos grandes escritores portugueses chegou a usar a ortografia oficial pré acordo de 1990, isto porque, para este linguista, só houve grande escritores em Portugal até à adopção do acordo de 1945. Quer dizer, tudo quanto se escreveu desde 1945 teve autores menores, que não merecem ser considerados.

 

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O melhor tinto de 2012

É o melhor tinto de 2012, não só em Portugal mas no mundo. O Concurso Mundial de Vinhos elegeu o Poliphonia Signature 2008, vinho alentejano de Henrique Granadeiro, o melhor vinho presente ao concurso. Eu sou apreciador de vinhos alentejanos e bem gostava de provar este, vamos a ver quando e se calha.

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Sobre a liberdade no Dia da Liberdade

Este ano a Associação 25 de Abril resolveu não participar nas cerimónias oficiais do 25 de Abril e, em solidariedade, também Mário Soares e Manuel Alegre decidiram não ir à Assembleia da República neste dia. Fizeram bem ou mal, eles o saberão e fizeram uso do direito de recusar o convite para uma celebração; o facto de poderem fazê-lo e de poderem dizer porque o fazem deverá ser suficiente para provar que existe, de facto, liberdade em Portugal.

Alegadamente, a política seguida pelo governo actual não respeita os ideais do 25 de Abril, mas quem detém a competência para julgar o que está ou não de acordo com os ideais da revolução? O mais que poderão dizer aqueles cidadãos é que esta política não está de acordo com os seus próprio ideais. Também não está de acordo com os meus ideais, já agora, e atrevo-me a pensar que até nem está de acordo com os ideais do Primeiro Ministro. O idealismo tem de submeter-se ao realismo, quando o que está em causa são as necessidades básicas.

O idealismo dos políticos que governaram Portugal desde 1974 não está isento de responsabilidade na situação que vivemos hoje, convém não esquecer, o que não significa menos respeito e consideração por aqueles que nos restituíram a liberdade. Estou agradecido aos capitães de Abril, ao Dr. Mário Soares e ao Manuel Alegre, mas temos democracia, felizmente, e é ao governo eleito que compete conduzir a política.

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Sistema anedotário nacional

O Sistema Anedotário Nacional (SAN) é constituído por um grande número de bobos e palhaços, pagos a peso de ouro, que se reúnem em fora de diversas instâncias para produzir as melhores anedotas a fim de encher órgãos de comunicação social e entreter os portugueses, proporcionando um meio de descompressão face às restrições a que são sujeitos pela crise.

O Forum Constitucional é a última instância dos fora anedotários e acaba de estabelecer o conceito de “destruição temporária”, determinando que uma ordem de destruição oriunda do Forum Supremo, porque não dizia textualmente que se tratava de uma destruição definitiva, era uma ordem que podia ser revertida, passando assim a estar não destruído aquilo que antes estava destruído.

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Paul Krugman desiludiu a oposição

A vinda de Paul Krugman a Lisboa era esperada ansiosamente pela oposição porque se trata de um economista de renome que se tem manifestado contra o excesso de austeridade. Acontece que o Governo fez o seu trabalho e reuniu-se com Krugman antes de este aparecer em público e, seja o que for que se tenha passado nesses encontros, a verdade é que aquele economista apareceu a afirmar que “não faria as coisas de forma muito diferente daquilo que está a ser feito em Porugal” e que as verdadeiras opções são tomadas em Berlim. Balde de água fria para a oposição!

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